Meio Ambiente e Construção

Notícia de 15/1/2018 

 

O ano de 2017 já passou, mas deixou-nos uma série de aprendizados e novos conhecimentos que nos permitirá enfrentar com melhores ferramentas o desafiante 2018. Que surpresas este ano nos trará?

Em um espécie de jogo de previsões, pedimos a nossos editores do ArchDaily em espanhol, que projetem, com base em suas reflexões de 2017, quais serão os temas em que ouviremos falar entre arquitetos durante no ano de 2018, que começa agora. 

Mulheres na arquitetura, bambu, millennials, arquitetura social, arquitetura rural e a abordagem de uma era pós-digital… descubra tudo o que você precisa saber para começar bem 2018!

 

  1. Compreender as formas de habitar dos millennials 

Por Piedad Rojas

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Sabemos que a geração milenar vai contra toda a corrente, são determinados e aspiram a experiências muito diferentes das de seus antepassados diretos. De acordo com pesquisas, podemos afirmar que esta geração de jovens tem menor interesse no casamento, esperam mais tempo para procriar ou alguns simplesmente decidem que não terão filhos. Em suas vidas aceleradas, não há tempo para tarefas domésticas e muitos compartilham moradias com amigos.

Há um boom na tendência freelancer e o espírito autônomo dos Millennials – a geração que se projeta para tornar-se seus próprios patrões – incentiva o uso de um mesmo espaço para mais de uma atividade, por isso ter uma casa que possa adaptar-se à um espaço de trabalho é a chave.

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Por esta razão, não é mais raro encontrar apartamentos pequenos, modernos, multifuncionais e minimalistas. O comportamento e os hábitos dos Millennials apontam justamente à isso, espaços mínimos, mas com grande flexibilidade. 2018 será o ano para abordar as necessidades desta tendência e adaptá-las à arquitetura, onde um ambiente pode mudar-se rapidamente e transformar o cenário, abordando estrategicamente a inovação, flexibilidade e visão de futuro.

 

  1. Arquitetos frente à construção de suas próprias obras: a urgência de estar na obra

Por José Tomás Franco

 

No ano de 2017, perguntamos aos nossos leitores se os arquitetos têm uma formação adequada em relação aos materiais e processos construtivos. Os resultados foram esmagadores e a conclusão foi bastante negativa: as universidades estão nos formando insuficientemente e sob as consequências que enfrentamos durante a vida profissional, onde temos que aprender à força. Aumentar nossos conhecimentos sobre materiais e construção – desde o início de nosso ensino – não pode ser opcional ou relegado a um segundo plano. É urgente se queremos ter os argumentos para defender a importância do bom projeto.

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Em nossas publicações diárias, testemunhamos o surgimento de uma série de explorações que priorizam o trabalho em escala 1:1, não apenas no âmbito universitáriomas também guiadas por coletivos de arquitetos que apresentam uma abordagem colaborativa e in loco, baseada no aprendizado. Voltar a conectar-se com a materialização de nossos projetos é uma tendência, e é absolutamente necessário que a prática volte a estar no centro de nosso trabalho.

Compreender a arquitetura em sua complexidade construtiva é ser consciente, além disso, de que esta só pode ser realizada se trabalharmos em colaboração multidisciplinar, e que dificilmente poderá entregar os resultados desejados se permanecermos na rígida posição de “gerentes de obra”, sem envolver-nos solidariamente em todo o processo. Embora esta necessidade seja refletida timidamente nas grades curriculares das universidades, no ArchDaily estamos nos esforçando para melhorar e multiplicar o conteúdo relacionado a essa abordagem.

 

  1. O desafio da atual arquitetura em abordar o contexto rural

Por Fernanda Amaro

 

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Como já dito por Rem Koolhaas no ano de 2016; “O atual desafio da arquitetura é entender o mundo rural”, uma área normalmente ignorada pelos arquitetos que há décadas concentram grande parte de sua energia nas cidades, sendo que estas representam apenas 2% da superfície do planeta. Koolhaas faz um chamado para mudar essa perspectiva e entender que o futuro consiste em intervir em “espaços nus, semi abandonados, pouco povoados, às vezes mal conectados”, uma vez que é onde se está observando acelerados processos de mudanças dos quais, como arquitetos, devemos assumir o controle.

Recentemente se iniciou uma pequena tendência em todo o mundo que compreendeu a necessidade de mudar-se a essas áreas e aproximar-se a conhecer suas comunidades, com a finalidade de incorporar desde uma perspectiva contemporânea em seus modos de vida, materiais, técnicas tradicionais e formas vernaculares que orientam o arquiteto para tomar decisões mais amigáveis, respeitosas e harmoniosas com o ambiente natural e social em que estão inseridos. Escritórios como Grupo Talca, dão conta disso, criando obras e pequenas intervenções in loco que acolhem tais particularidades e que encorajam os próprios habitantes a realizá-las. 

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Tendência que está apenas começando e espera-se que tenha longo prazo, e então continuará em 2018, ano em que provavelmente veremos como mais e mais arquitetos promoverão o desenvolvimento de projetos em áreas distantes das grandes cidades, tomando a lógica da paisagem natural ou das tradicionais construções que ali nasceram.

 

  1. A arquitetura social enfrenta o retorno do pêndulo

Por Nicolás Valencia

Os meios de difusão e discussão em arquitetura não cobrem toda a arquitetura. É certo, mas não é comum para aqueles que criticam ultimamente fazer parte da chamada arquitetura mainstream (convencional), em vez dos defensores da arquitetura social, a louvada e banalizada tendência em partes iguais para visibilizar e valorizar a arquitetura informal, técnicas vernaculares e o compromisso com aqueles que foram abandonados pela sociedade.

Popular entre as novas gerações, essa tendência atingiu seu pico com a escolha de Alejandro Aravena como Diretor da XV Bienal de Arquitetura de Veneza e posteriormente vencedor do Premio Pritzker 2016. Claro, a arquitetura social não é a cura universal nem mesmo a única expressão válida da disciplina — Josep María Montaner fala de outras sete tendências contemporâneas —, mas o tema que dirige este texto revela uma força defensiva que pode aparecer em 2018 nos principais eventos da disciplina, refletindo esse potencial retorno do pêndulo. 

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A próxima edição da Bienal Panamericana de Quito adicionou a palavra “Arquitetura” em seu título. Antes não se falava de arquitetura? Sim, mas a organização diz em seu comunicado que outro têm sido o rumo nas últimas edições, onde as críticas de projeto (e ao trabalho arquitetônico) teriam sido deslocadas pelo interesse nos processos participativos, a história e a “camada emocional” dos projetos, como adverte Fredy Massad.

Embora a arquitetura social explodiu reagindo ao academicismo local e a atitude estética da disciplina, monopolizava os sucessos da produção contemporânea, tornando-se progressivamente parte do estabelecimento. Eventos como a BAQ2018 podem definir o tom dos próximos eventos latino americanos e teremos que ver quais caminhos os diferentes ramos da arquitetura social levará. Como todas as vanguardas, deverá enfrentar seus sucessos, fracassos e contradições.

 

  1. A era pós-digital entra na linha de tempo da representação gráfica na arquitetura

Por Karina Zatarain

Na arquitetura, as técnicas de representação estão em constante evolução, deslocando-se mutuamente mediante ao avanço da tecnologia e alterando as preferências da sociedade. É inegável que atualmente as ferramentas digitais passaram a dominar a representação arquitetônica, colocando imagens hiper-realistas sob os métodos de representação tradicionais.

No entanto, através da tecnologia que permite criar imagens cada vez mais realistas de espaços ainda não construídos, muitos arquitetos defendem preservar a íntima relação consolidada há séculos, entre a arte e a arquitetura na etapa representativa do projeto.

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Recentemente tem surgido uma forte presença em redes sociais, principalmente no Instagram, de uma nova linguagem de representação que permeia o trabalho dos arquitetos. Esta nova onda utiliza históricas referências de arte e da técnica da colagem que caracterizou os anos sessenta e setenta à escritórios como Archigram e Superstudio. A fusão alcançada com as novas ferramentas digitais resulta em um diálogo mais artístico sobre as intenções e referências de alguns estúdios de arquitetura atuais.

Ao fundir as ferramentas digitais disponíveis com a intenção representativa de colagem, alguns escritórios contemporâneos de arquitetura optam por afastar-se do hiper-realismo dominante, criando uma nova tendência: a representação pós-digital. Sem dúvida, este é apenas o início de uma nova etapa de negociação entre precisão da tecnologia e a qualidade expressiva inerente à arquitetura.

 

  1. Arquiteto político: a criatividade enfrenta as normas e o futuro das cidades

Por Fabián Dejtiar

Quantas experiências criativas na arquitetura latino americana estão sendo geradas fora das normas? Presente nos contextos urbanos mais heterogêneos, onde a criatividade e a inovação foram os únicos fatores determinantes para fazer justiça perante as necessidades inerentes em decorrência dos modelos socioeconômicos adotados. As utopias urbanas positivas reguladoras nem sempre se sustentaram pois estavam sujeitas a ações, que por sua vez eram sujeitas a balanços políticos, econômicos e ao controle.

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Com que ação pode a criatividade dessas experiências latino americanas, além dos regulamentos, enfrentar o padrão e, portanto, o futuro das cidades? A resposta é historicamente abundante na demonstração do papel social e político do arquiteto. Como mencionou o arquiteto espanhol Andrés Jaque na XX Bienal de Arquitetura e Urbanismo do Chile 2017, “todos os arquitetos são políticos” e a verdadeira questão é quais formas de política cada um de nós está disposto a defender . Neste sentido, a ação política é uma ferramenta para aprimorar, incorporar ou transmutar a criatividade.

Qual é, então, a tendência dos arquitetos? o arquiteto envolvido na atividade política, um ativista criativo para as questões normativas para mudar os limites para atender as necessidades reais, do impacto social e do futuro das cidades. Reforçar o papel proativo e político que identifica nossa disciplina é uma tendência que irá mudar o futuro de nossas cidades. E o que é relevante, então, é a tendência da transmutação da criatividade em torno da lei, e a influência sobre isso no futuro do urbanismo.

Um exemplo, a Cidade do México na norma mudará sua criatividade em relação à resiliência, após conseqüências do último desastre natural; Buenos Aires na normativa – em relação às modificações anunciadas no novo código urbano – mudará sua criatividade em relação à homogeneidade de seu tecido, e assim por diante.

 

  1. A revanche das mulheres na arquitetura

Por Camila Marín e Pola Mora

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“Ideologia que defende que as mulheres devem ter os mesmos direitos que os homens”. Esta é a definição que a Royal Spanish Academy dá ao feminismo. A partir deste princípio, tem surgido nos últimos anos um grande número de movimentos que exigem melhores condições de trabalho para as mulheres e o fim da desigualdade entre homens e mulheres. Em 2018, alguns movimentos tornarão o espaço público através de marchas em diferentes cidades do mundo e outras campanhas que proliferam através de redes sociais usando hashtags como: “#NiUnaMenos” (nem uma à menos), “#HeForShe” (ele por ela) e “#MeToo” (eu também).

Se para muitos ainda não estava claro, 2017 tornou explícito que as mulheres não ganham o mesmo que os homens, que sofrem discriminação e assédio no trabalho, que trabalham por mais horas e que são mais suscetíveis a serem demitidas pela possibilidade de serem mães. Nenhum trabalho escapa. A arquitetura tampouco. É por isso que este ano, em nossa área, uma série de colunas e eventos se propuseram falar do tema e capacitar as mulheres no mundo da arquitetura, incentivando-as a ocupar o espaço perdido no debate público.

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Em 2018, o assunto continuará em voga, mas desta vez não só através de declarações e discursos, mas através de ações concretas. A Bienal de Arquitetura de Veneza este ano será dirigida justamente por arquitetas. Yvinne Farrell e Shelley McNamara e a lista de curadores responsáveis pelos pavilhões nacionais já conta com a participação feminina muito maior do que nos anos anteriores, destacando, entre outros, países como ChileEspanhaPeruIsrael e BrasilQuem sabe o prêmio Pritzker deste ano nos surpreenda com a incorporação de uma nova arquiteta à sua lista de vencedores.

 

  1. Aprender com as lições do bambu para reforçar nossa sensibilidade e eficiência

Por José Tomás Franco

 

O bambu sempre esteve presente. Foi trabalhado e usado por gerações nas regiões mais áridas do planeta, estendendo seu uso ao longo da linha do Equador e muitos quilômetros adiante, dentro da África, Ásia, América e Oceania. Embora alguns o chamem de “ouro verde do homem pobre”, este multifacetado material – com mais de 1.500 usos documentados – deixou de ser associado com a pobreza a ser massificado em virtude de suas qualidades. No campo da construção, seu uso atual relaciona-se à resistência, versatilidade e eficiência, ligado à beleza do orgânico e com respeito inato ao meio ambiente.

Graças ao seu contundente passado e seu enorme potencial futuro, o bambu é uma tendência em 2018 porque é um material necessário. Em um mundo sufocado pela poluição e resíduos gerados pela indústria da construção civil, parece ser urgente aprender com artesãos que tem os utilizado há anos com naturalidade e fluidez que contrasta com os complexos processos construtivos de outros materiais. Da mesma maneira, abre a oportunidade de investigar novas tecnologias que possam ampliar suas possibilidades, com base no trabalho conjunto junto à outros materiais e técnicas.

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Não trata-se de forçar seu uso se não o tivermos em mãos, é simplesmente um chamado para fascinar-se com sua harmonia, e aprofundar suas lições para serem melhores arquitetos, já que usá-lo requer uma mudança de mentalidade. É um material que faz sentido e que gera uma arquitetura de acordo com o ser humano e seu entorno, e este pode ser seu mais valioso ensinamento: parece ter nascido para ser usado em nosso favor.

O primeiro passo é estar aberto a conhecê-lo, e pode começar agora mesmo.

 

  1. Vislumbrar a direção da arquitetura pós-terremoto

Por Karina Zatarain

Ao longo da história, a arquitetura desempenhou um importante papel em resposta às necessidades de reconstrução após diferentes tipos de desastres naturais. Os desafios e limitações apresentados nos estados de emergência forçaram a comunidade arquitetônica repetidas vezes a produzir propostas poucos convencionais que melhorassem a qualidade de vida das comunidades devastadas. Nos últimos anos, várias iniciativas de reconstrução pós-desastre receberam merecidos reconhecimentos por seu trabalho altruísta e capacidade de solucionar problemas através do desenho.

Em 2014, o arquiteto japonês Shigeru Ban recebeu o prêmio Pritzker por sua obra que “exala otimismo, onde outros percebem desafios quase impossíveis de superar”. Ban obteve reconhecimento internacional por seu uso experimental e inovador de materiais como papel e papelão em construções, em seus esforços para auxiliar desabrigados após desastres naturais ou em situações de refugiados.

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No ano passado, o Projeto de Reconstrução Pós-Terremoto em Guangming da Universidade Chinesa de Hong Kong e Universidade de Ciências e Tecnologia de Kunming foi nomeado como “Edifício do Ano de 2017” na cerimônia de encerramento do World Architecture Festival (WAF) em Berlim. Os arquitetos da equipe desenvolveram uma nova e econômica técnica construtiva em taipa que será mais resistente à atividade sísmica e que o júri considerou que poderia ser aplicada em qualquer parte do mundo afetada por problemas sísmicos e níveis de pobreza. 

No México, após dois devastadores terremotos ocorridos no centro do país em setembro de 2017, surgiram iniciativas de reconstrução, lideradas pela associação de arquitetos do país. Numa série de mesas de debate e workshops, foram analisados temas como a resistência sísmica de diferentes materiais vernaculares e a autoconstrução.

Embora a palavra “tendência” tenda a referir-se a algo fugaz e superficial, consideramos que exista uma nova e crescente onda de consciência na arquitetura, que busca concentrar seus esforços nos lugares onde mais se necessita.  

 

Fonte: Archdaily