Meio Ambiente e Construção

Urbanismo: Anos 90

AS CIDADES, NA ORDEM DO DIA

 

Porém, a complexidade das condicionantes para tais obras não impediu que se fizesse mais, e com mais qualidade, do que na década anterior: uma cidade nova (Palmas), requalificação de centros urbanos e revitalização de núcleos históricos.

A criação, em 1990, da cidade de Palmas (1990/91; PD 146) – capital de Tocantins, despertou imensa curiosidade em arquitetos de todo o país. Os responsáveis pelo projeto foram os arquitetos Luiz Fernando Cruvinel Teixeira e Walfredo Antunes de Oliveira Filho, do escritório goiano Grupo Quatro. A cidade foi projetada a toque de caixa, com ênfase na flexibilidade do plano a ser desenvolvido “ao sabor e contingência da sociedade”. A falta de rigidez parece ter contribuído para o desvirtuamento da proposta original: o Estado transformou-se em especulador imobiliário, agindo como proprietário de um loteamento.

Palmas

Palmas/TO

 

Em São Paulo, no período que cobre duas administrações (1993/2000), as ações limitaram-se à ampliação do sistema viário. Destacou-se a reurbanização do vale do Anhangabaú (1981/92; PD 31 e 160), de Jorge Wilheim, Rosa Kliass e Jamil Kfouri, que, mesmo bastante criticada pelo alto custo (cerca de 250 milhões de dólares), equacionou o fluxo de pedestres e veículos, criando a base para a lenta, mas louvável, recuperação do centro paulistano.

Em Recife, algumas intervenções regularizaram o comércio ambulante: conhecido como camelódromo, o Calçadão dos Mascates (1993/94; PD 190), de Zeca Brandão e Ronaldo L´Amour, foi concluído na zona central com elementos típicos de construções locais. Os mesmos autores são responsáveis pela revitalização do cais de Santa Rita (1994/96; PD 198). Atualmente, Recife está recuperando seu centro histórico (PROJETO DESIGN 243).

Recife - calçadão

Calçadão dos Mascates – Recife/PE

 

Segue o exemplo de Salvador, onde a recuperação do Pelourinho – com obras como o Quarteirão cultural (1997/99; PD 233), de Vivian Costa e Etelvina Fernandes – adota uma política de resultados criticada por ser superficial e abdicar do rigor das obras de Lina Bo Bardi para a área, no final da década de 80. Ali, recentemente, Assis Reis desenhou o Corredor Cultural, requalificando a área da praça da Sé.

No final da década, Santo André, no na região do ABC paulista, investiu no espaço público, com destaque para a cobertura de parte das ruas do centro (1998/2000; PD 245), obra de Décio Tozzi que lembra as galerias europeias, inspiração também da Rua 24 Horas, em Curitiba.

Curitiba ganhou notoriedade nacional na década de 90 com realizações como a Ópera de Arame, o Ligeirinho e a Rua 24 Horas. Sua excelência urbanística, porém, remonta a 1964, quando Jorge Wilheim liderou a equipe que elaborou, para a cidade, um plano diretor que tinha como característica a flexibilidade e previa a criação do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) para acompanhar e complementar sua implantação. O Ippuc destacou-se por sua capacidade de testar soluções com o acompanhamento da população.

Mais clara rua 24 horas

Uma das ruas 24 horas – Curitiba/PR

 

O calçadão da rua 15 de Novembro, por exemplo, criado em 1972 com desenho de Abraão Assad e aprovado pelos curitibanos, transformou-se em ícone urbano. Em 1989, com a volta de Lerner à prefeitura, foram desenvolvidos projetos pontuais de grande efeito. Entre eles, as estações-tubos, denominadas Ligeirinho (1990/91; PD 152), de Assad e Carlos Eduardo Ceneviva, são a materialização do avanço implementado no transporte coletivo da cidade, iniciado em 1974 com os corredores expressos.

Já o Jardim Botânico, de Fanchette Rischbieter (1990/91; PD 152), foi transformado em símbolo da capital paranaense. O projeto, também em co-autoria com Assad, busca aumentar a área verde da cidade, tal como preconizado pelo Ippuc – aliás, ao longo da existência do instituto, foram implantados os parques Barreirinha, Barigui, São Lourenço e Iguaçu. Faz parte ainda dessa política a Ópera de Arame (1991/92; PD 152). Projetada por Domingos Bongestabs, é um espaço de espetáculos construído na cratera de uma pedreira desativada e transformada em parque. Já a Rua 24 horas (1989/91; PD 152), de Assad, Célia Bim e Simone Soares, tem como mérito possibilitar a manutenção da atividade constante no centro da cidade em espaço coberto, como as galerias francesas.

São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, contou com o arquiteto José Magalhães Júnior no comando da Secretaria de Urbanismo municipal, que executou a urbanização do centro histórico.

Caso parecido, com repercussão maior, foi o do Rio de Janeiro, com Luiz Paulo Conde. Desde 1992, vem passando por uma renovação urbana sem precedentes, baseada em dois grandes programas: o Rio-Cidade e o Favela-Bairro (1995; PD 201). O primeiro consiste na requalificação e no disciplinamento das áreas públicas, combatendo o uso ilegal do espaço e restaurando, sobretudo, as praças e as vias centrais dos 19 bairros onde foi realizado. Entre as propostas realizadas estão as de Ipanema, de Guto Índio da Costa, e Leblon, de Paulo Casé e Luís Acioli.

Rio Cidade

Projeto Rio Cidade – Mobiliário Urbano – bairro Leblon

 

Já o Favela-Bairro, cuja primeira fase foi iniciada em 1994, implanta uma política habitacional que procura construir a instância pública – saneamento, criação de ruas etc. – pela integração da favela com o bairro circundante. A estratégia é ocupar, sem retirar os moradores, os assentamentos já consolidados, valorizando a espacialidade peculiar das favelas cariocas e retirando delas o caráter de exclusão. Ao todo foram favorecidas 19 favelas, todas com mais de 25 anos de existência.

 

Fonte: Arcoweb