Meio Ambiente e Construção

BIOCONSTRUÇÃO

As informações aqui contidas são frutos de estudos teóricos e de muitos testes práticos, onde constatamos a simplicidade destas técnicas de Bioconstrução, facilitando a autoconstrução, o baixo consumo energético dos materiais empregados, baixo custo, autonomia, etc …

Podendo-se chegar a um excelente acabamento e grande durabilidade. Existem casas com mais de 100 anos construídas em Terra Crua! Como em Ouro Preto (Adobe), Pirenópolis (Adobe), Rio de Janeiro (Pau a Pique) etc.  Outros exemplos são a Muralha da China, Shibam, no Iêmen entre tantos outros exemplos pelo mundo. Infelizmente estes dados não são “corretamente” divulgados nas universidades, por questões econômicas…
Porém, apesar da facilidade de execução, devemos realizar diversos testes com o solo a ser utilizado e observar atentamente a técnica a ser executada, para poder realizar uma obra de qualidade e durabilidade.
 
A Terra Crua, além de ser um elemento natural, regula a umidade interna da casa, tem excelente conforto térmico e acústico, e usando a criatividade podemos fazer estantes embutidas nas paredes, nichos, luminária, bancos de terra, alto relevo e outras tantas possibilidades proporcionadas pela plasticidade do barro.
O objetivo da Bioconstrução é construir uma casa saudável, que respeita o meio ambiente e o entorno onde está inserida e também criar um ambiente agradável de viver. Casas feitas com Terra Crua são frescas no verão e o frio do inverno não entra facilmente, e também temos a satisfação de tê-la construído com as próprias mãos, com os amigos e as crianças, enfim, um verdadeiro lar!
 
Por que fazer uma Bioconstrução?
 
Nossa sociedade atual vive um momento único, com abundância de energia gerada pelo petróleo. Há alguns séculos atrás a vida na Terra era muito diferente, embora mais trabalhosa e difícil, a humanidade estava em equilíbrio com a natureza. Com a descoberta do petróleo, a vida diária da humanidade mudou drasticamente, em pouco tempo. Essa mudança trouxe muitos avanços, sendo uns positivos e outros negativos. Atualmente nos encontramos na beira de um colapso ambiental e energético. A extração do petróleo, que é um recurso não renovável, está decaindo enquanto a demanda por ele aumenta a cada dia. Embora este assunto não seja divulgado (por diversos fatores, principalmente econômicos), em poucas décadas não teremos mais esta fonte de energia.
Especula-se muito quanto a fontes alternativas de energia, como o biodiesel, energia eólica, hidráulica, solar etc., ainda não temos uma matriz energética que seja capaz de suprir a demanda crescente de nossa sociedade de consumo.
 
As casas construídas atualmente são totalmente dependentes das energias exteriores (elétrica, gás, água, etc.). Apesar de haverem pesquisas e soluções simples de iluminação passiva, ventilação cruzada, saneamento ecológico, captação de água da chuva etc., pouco se aplica na prática da construção civil. E é claro, isso tem uma raiz profundamente econômica, gerando um monopólio das grandes indústrias e governos, deixando as pessoas cada vez mais dependentes. Junto com isso analisamos o modelo de educação, onde o conhecimento é totalmente fragmentado e desconectado, aumentando a alienação coletiva e, consequentemente, a dependência.
 
A Bioconstrução vem demonstrar que é possível fazer uma casa confortável, com iluminação natural, sistema de aquecimento solar e/ou a lenha (do ambiente interno da casa e da água), ventilação cruzada (observando os ventos predominantes), estratégias utilizando da vegetação para fazer sombras, quebra ventos, produzir alimentos saudáveis em pequenos locais, captar água da chuva, pois a água que vem das redes públicas estão carregadas de substâncias tóxicas (cloro, flúor, resíduos de agrotóxicos, hormônios femininos e sabe-se lá o que mais…). Ou seja, a Bioconstrução não se limita apenas a construção da casa em si, mas nos faz refletir muitos valores e conceitos de nossa “sociedade moderna”.

Quem será que inventou a “historinha” dos 3 porquinhos, onde o único que se dá bem é o que tem a casa de tijolo e concreto?

Esse ressurgimento de técnicas tradicionais/ancestrais se faz urgente nos dias atuais e em um futuro muito próximo, onde as palavras chaves serão a AUTONOMIA e a COOPERAÇÃO MÚTUA. Mas não devemos ver esse retorno de técnicas ancestrais como um retrocesso ou como uma vida sofrida, mas sim como a união do conhecimento ancestral com as descobertas das ciências modernas em uma síntese do que cada um tem de melhor, rumo a uma sociedade mais humana e integrada com a natureza.


A PERMACULTURA é uma ciência que une o antigo com o moderno nesta síntese, e desde os anos 70, quando surgiu na Austrália, vem resgatando e desenvolvendo técnicas e modelos comprovados que são muito eficientes para suprir as necessidades para uma vida humana e ambiental saudáveis, englobando assuntos de Agricultura Sustentável e Segurança Alimentar, utilização adequada da Água e Saneamento Ecológico, Bioconstrução, fontes de Energias Renováveis e aspectos sociais (ecovilas rurais e urbanas).
Trabalhando dentro da lógica de ajuda mútua com a natureza e as pessoas o trabalho se transforma em algo que preenche o nosso íntimo, ou como diria Johan Van Legen (autor do Manual do Arquiteto Descalço), “O trabalho deixa de ser trabalho e se transforma em deleite!”
Grande inspiração, mas que só poderá ser comprovada na prática!

Atualmente as palavras “sustentabilidade” e “ecologia” estão na moda. Isto tem gerado uma distorção do que é realmente a “sustentabilidade”, pois acabou sendo incorporado para agregar “valor” a produtos e/ou serviços. Muitas vezes, através de uma análise profunda de todo o ciclo de produção ou do modo de atuar da empresa, vemos que não tem nada, ou quase nada de sustentável.

Realmente, nos dias atuais fica muito difícil fazer uma casa que seja 100% sustentável, visto que os produtos disponíveis no mercado da construção civil são, em geral, muito poluentes e tóxicos. Além disso, são produzidos a grandes distâncias dos locais de construção. Mas podemos reduzir os danos drasticamente!

“Hoje em dia com as facilidades da “vida moderna” podemos comprar tudo o que queremos para nossa construção, no comércio local, mas estes materiais são geralmente extraídos em grandes quantidades, de locais que podem estar a mais de 4000 km de distância da obra, causando grande impacto, muitas vezes sem controle.
Imagine que sua obra pode estar ajudando a transformar em deserto uma floresta, afetando pessoas que não tem relação alguma com tais construções.
Retirando-se materiais locais para um pequeno número de pessoas, poderemos controlar tal impacto.”

 

*Texto extraído da Cartilha de Eco-Construções – Marcelo Bueno

“As construções convencionais (construção civil) são responsáveis por aproximadamente 40% dos materiais e recursos gastos por ano no mundo! Isto é uma prática insustentável.
Além de gerar habitações tóxicas. Verniz, tintas industrializadas, madeiras tratadas com produtos químicos etc., geram um ar carregado de substâncias voláteis que ficam no interior dessas casas “modernas”.
Nós temos toxinas como o álcool, acetonas, tricloroetileno, benzina e formaldeídos em nossas cozinhas, salas e quartos.”

 

Construção Civil:

– 1/4 da madeira extraída;

– 2/5 da energia consumida;

– 1/6 da água potável.

*Dados da cartilha “Soluções Sustentáveis – Construção Natural / Ecocentro IPEC 2007.

Princípios de Bioconstrução:

-Construção de baixo impacto ambiental ou impacto positivo;

-Observação do local em que se deseja construir;

-Isolamento nos lados mais ventosos e chuvosos (conservação de energia);

-Iluminação passiva / aberturas maiores para a face norte (face do sol);

-Habitações saudáveis (não tóxicas);

-Utilização de materiais locais;

-Autoconstrução e/ou mão de obra local;

-Mutirão – celebração – ajuda mútua;

-Tratamento adequado dos resíduos.

 

VALORIZANDO A ARQUITETURA TRADICIONAL
Desde a evolução da industrialização no século XIX, as técnicas de construção tradicionais vêm sendo abandonadas. As pessoas com poucos recursos financeiros têm menos acesso aos produtos industrializados e seguem fazendo o uso das técnicas antigas, como o adobe, o pau-a-pique e a taipa de pilão.
Estas técnicas são associadas à população de baixa renda, o que gera o preconceito que permanece até os dias de hoje.
Em muitos lugares somente as gerações mais antigas têm o conhecimento das técnicas tradicionais de construção.

A arquitetura tradicional sempre construiu de acordo com o clima e com o ambiente natural, garantindo moradias agradáveis. Com a industrialização isto vem sendo perdido. Em alguns programas de habitação social, por exemplo, é construído o mesmo tipo de casas no sul e no norte do Brasil, sem o mínimo respeito à cultura e às necessidades das pessoas, e sem considerar as grandes diferenças climáticas que temos ao longo do país.
Devemos ter o cuidado de transmitir as técnicas tradicionais às gerações futuras, do contrário esta sabedoria será perdida.

 

Curiosidades

– 1/3 da população mundial vive em casas de terra crua;

– Shibam é a cidade mais antiga construída com Taipa de Pilão;

– A mesquita de Djenné – Mali, é a maior construção de terra no mundo;

– A Muralha da China foi construída, em boa parte, com Terra Crua.

 

Desvantagens da construção com Terra Crua:
-A terra não é um material padronizado, necessitando fazer testes com o solo disponível, para agregar aditivos caso necessário, e se obter uma mistura resistente ao tipo de construção, antes de começar a obra;

– Construções com terra são mais suscetíveis às águas. Deve-se evitar que a água da chuva, por exemplo, escorra pela parede. Isto pode ser evitado com telhados que tenham beirais de pelo menos 80 cm.
*Porém, uma parede com um bom reboco de terra estabilizada corretamente sofrerá pouco com as intempéries.

– A terra ao secar sofre uma refração, que causa rachaduras.
Esta retração oscila entre 3 e 12% em técnicas com terra mais úmida, e de 0,2 a 0,4% em técnicas com terra quase secas.
Posteriormente deve-se aplicar o reboco, que cobre estas rachaduras.

 

Vantagens da construção com Terra Crua:

– A terra crua regula a umidade interna das habitações. O barro tem maior capacidade de absorver e perder a umidade que os demais materiais de construção.
A umidade dentro de uma casa de barro costuma ficar em torno de 50%, oscilando esse percentual em aproximadamente 5 a 10% dependendo da estação do ano.
O nível de umidade considerado ideal para a saúde é de 40 a 60%. Menor que 40% haverá muita partícula de poeira em suspensão e acima de 60% começam a se proliferar fungos no ambiente.

– O barro estabiliza a temperatura no ambiente interior. A terra armazena calor (massa térmica) durante sua exposição aos raios solares e depois perde lentamente quando a temperatura exterior estiver baixa.
Em locais onde ocorre grande oscilação de temperatura entre o dia e a noite, o barro é uma excelente proteção.
No verão a casa é fresca e no inverno o barro isola bem do frio exterior.

– Por ser natural, a terra não contamina o ambiente e economiza energia, utilizando apenas 1 a 5% da energia despendida em uma obra similar de concreto e tijolos cozidos.

– As construções com terra podem ser demolidas e reaproveitadas múltiplas vezes.

– Construções de baixo custo. A construção com barro é relativamente simples, facilitando a auto-construção. Utilizando-se ferramentas simples e materiais não tóxicos, toda família pode participar da obra. As crianças adoram!

– O barro preserva a madeira e outros materiais orgânicos.
As madeiras que ficam “dentro” da parede de barro se preservam por muito mais tempo, devido ao seu baixo equilíbrio de umidade que varia de 0,4 a 6%. Os insetos e fungos, responsáveis pela decomposição de materiais orgânicos, necessitam de um mínimo de umidade em torno de 14 a 20%, deste modo não conseguem destruir estes materiais.

 

Identificação da terra:
A terra é basicamente uma combinação de areia, argila, silte, pedras e matéria orgânica.
As camadas superficiais do solo contêm quantidades maiores de matéria orgânica e não são apropriadas para construção.
Utilizamos o subsolo para construir.

 

Função de cada partícula:
ARGILA- Coesão entre as partículas, ela que mantém todas as partículas da terra unidas, sejam areias ou siltes;

AREIA- É a partícula resistente, aquela que trabalha os esforços de compressão, ou seja, a que sustenta a estrutura. Porém sozinhos, os grãos de areia não ficam unidos, função cumprida pela argila;

SILTE- sem função estrutural, contribui no preenchimento de espaços vazios, dada a grande diferença de tamanho entre a areia e a argila;

MATÉRIA ORGÂNICA- nas terras usadas para construção NÃO DEVE SER EMPREGADA, pois pode decompor-se dentro da estrutura, formando partes ocas dentro da mesma e diminuindo a resistência estrutural.

 

Outros materiais que podem ser adicionados ao barro:

Palha: é adicionada a terra para aumentar a resistência às tensões.
Funciona de forma similar aos vergalhões de ferro no concreto.
Também serve como isolante térmico e micro junta de dilatação.
*Palha de leguminosa é ruim, pois possui muito nitrogênio (degrada rápido). Palha boa é de gramínea, que contém sílica.

Esterco: utiliza-se preferencialmente o esterco de vaca, mas pode-se usar também o esterco de cavalo e/ou de búfalo. No esterco fresco existe uma bactéria que ajuda na fermentação, mas a acidez residual do estômago, contido no esterco, não deixa entrar em processo de putrefação. Com o processo de fermentação, ocorre um alinhamento das partículas de argila, que após a secagem confere uma excelente resistência à abrasão e certa impermeabilidade. É considerado o cimento natural. Depois de seco, e mesmo durante o manuseio, não apresenta odor desagradável.

Sumo de cactos (Palma): impermeabilizante natural.
Também confere maior aderência ao reboco e aumenta a união das partículas no barro.

Modo de fazer o sumo de cactos:
Um balde é o suficiente para fazer algumas paredes.
Deve-se utilizar luvas e ter muita atenção com os espinhos do cactos.
Depois de coletado, devemos picar o cactos e colocar em um balde, cobrindo com água.
Depois de 2 dias está pronto para ser misturado na massa do barro.
Deve-se coar antes de misturá-lo à massa.
O mesmo cactos picado pode ser utilizado diversas vezes, adicionando mais água no balde até que pare de liberar sua viscosidade, sobrando apenas a casca verde do cactos.

 

Testes de reconhecimento do solo

Teste de retração

Neste teste observamos como o barro se comporta, em função da retração, de modo a sabermos o percentual ideal de areia na mistura.

Alguns pontos importantes:
As partículas de argila quando misturadas com água tendem a “inchar” (dependendo do tipo de argila esta é mais ou menos expansiva) e após a secagem da parede ou reboco aparecem fissuras, causadas por essa volta ao tamanho normal das partículas de argila.
Já as partículas de areia não aumentam de tamanho em contato com a água.
Se a terra é muito argilosa a tendência é ocorrer grande quantidade de rachaduras, que é estruturalmente ruim, e no caso de um reboco a tendência é de que se desprenda da parede em pouco tempo.
Se adicionarmos um pouco mais de areia nesta terra argilosa veremos que as rachaduras serão menores. Mas também temos que cuidar para não adicionar areia em excesso, nesse caso a mistura não racha mas se esfarela facilmente, o que também não é interessante.
O melhor jeito de saber a proporção ideal de areia/argila de um solo específico é fazer o teste de retração, e observar os padrões de rachaduras, após a secagem das amostras.

 

Como fazer:
Itens:
-solo que queremos testar;
-areia;
-água;
-caderno de anotações e caneta;
-desempenadeira ou colher de pedreiro;
recipiente (pode ser pequeno, um copo por exemplo) para servir de medida.

 

Escolher uma parede (que não pegue chuva diretamente) para fazer o teste.
Antes de aplicar o barro na parede, com as misturas que queremos testar, devemos molhar a parede, para melhor aderência.
Fazer diferentes proporções de solo + areia+ água (utilizando o recipiente medidor) e aplicar em uma pequena parcela da parede, podendo ser em uma área de aproximadamente 20 x 20 cm e espessura de 1 a 2 cm.
Aplicar com a desempenadeira ou colher de pedreiro.
Anotar todas as proporções testadas e numerá-las.
Deixar secar, em aproximadamente 24h, e observar o padrão de rachadura.
Sabemos que uma amostra não serve para nada quando esta apresentar um padrão de rachadura que forma células, o mesmo tipo de rachadura que ocorre em fundo de lagos quando secam.

 

O ideal é a mistura que apresenta rachaduras pequenas e isoladas.

Exemplos de misturas para testes:
Teste 1– 3 partes de terra;
-Teste 2 – 2 partes de terra + 1 parte de areia;
-Teste 3 – 1 parte de terra + 2 partes de areia.
*Evite colocar muita água. O ideal é que a mistura fique no ponto de massa de pão.
DSC01275

 

*Os teste do canto superior esquerdo e o inferior direito (foto acima) apresentam um bom padrão de rachaduras.

*O teste que não apresenta rachadura certamente se desmanchará com facilidade, pois falta argila.

 

Costumamos usar a metade destas misturas/testes para fazer este pequeno reboco/teste e a outra metade fazemos uma “bolacha” de barro, que deixamos secar por uma semana, na sombra e abrigado da chuva, e depois de seco fazemos o teste de resistência do material, quebrando-o.

Uma bolacha que quebra muito fácil e ao ser comprimida entre os dedos se esfarela facilmente falta argila e uma bolacha que demora a quebrar certamente conterá muita argila, e deste modo, a mesma amostra no reboco da parede irá apresentar grandes rachaduras.

Neste teste da bolacha o melhor resultado será o que quebra, mas não esfarela facilmente. Devemos comparar estes dois testes (reboco e bolacha) para obter o melhor traço para a mistura de barro.

 

DSC01041

 

Para a técnica de Pau a Pique, que utilizamos em nossas Bioconstruções do Espaço Naturalmente, costumamos usar em torno de 15 a 25% de argila e o restante de areia na mistura, adicionando aproximadamente 2/3 de palha em ralação ao volume de barro.

 

Teste de tato e visual

Tamanho das partículas: grãos de areia são os únicos que podem ser visualizados a olho nu, portanto, muitas vezes é possível reconhecer um solo arenoso simplesmente com a observação, bastando reconhecer a proporção dos grãos de areia;

Cor da terra: terras vermelhas e amarelas costumam ser argilosas, porém o mais importante a verificar são as terras escuras, quase pretas, muito marrons, que são ricas em matéria orgânica e não devem ser utilizadas para construção;

Cheiro: a terra deve ser inodora. Se apresentar leve cheiro de mofo, esta terra possui matéria orgânica e não deve ser utilizada para construção. Recomenda-se umidificar levemente a terra, se esta estiver muito seca, para realizar este ensaio;

Lavado de mãos: espalhar uma amostra de terra molhada nas mãos e deixar que a mesma seque naturalmente. Bater uma mão contra a outra e observar como a terra se desprende. Se toda a terra sai da mão com facilidade, esta é uma terra arenosa, se ficar um talco na mão, a terra é siltosa, e se a terra manchar a mão, sendo necessário lavá-la para retirar a mancha, esta é uma terra argilosa.

 

Testes de comportamento:

Queda de bola: analisa-se o aspecto do espalhamento das partículas em função do tipo de terra. Toma-se um punhado de terra com umidade mínima para que se faça uma bola de 5 a 8
cm (não pode estar encharcada, plástica). Deixar a bola cair em uma superfície plana e lisa,
sem oferecer impulso, de uma altura de mais ou menos 1m.
Terras argilosas achatam, quase não apresentam fissuras, ou apenas algumas pequenas
nas laterais.
Terras arenosas espatifam e suas partículas se desprendem, ou seja, a bola desmancha.

Retração Linear: numa fôrma alongada, de medidas similares a 40X5X5, colocar a amostra da
terra a ser analisada em estado úmido (umidade mínima para que haja coesão), comprimindoa
para que se preencha bem a fôrma e para que fique homogeneamente distribuída. Aguardar
alguns dias, até que amostra seque completamente e observar: se houver retração
considerável e nenhuma rachadura, terra argilosa.
Se houver rachaduras, ou seja, se a amostra partir em um ou mais pontos, terra arenosa.

 

Teste de sedimentação:
Retira-se uma amostra do solo, coloca-se em um recipiente transparente e cilíndrico (pote de vidro de + 500g), preenchendo 1/3 do mesmo com a amostra e completando os outros 2/3 com água. Misturar bem, sacudindo por aproximadamente 30 minutos. E depois se deixa repousar até que a água esteja totalmente transparente. Com este teste é possível observar a proporção de argila, areia e silte que compõe o solo. O mais pesado, a areia, é a primeira a depositar, ou seja, as partículas maiores ficam na parte mais baixa. A argila, mais leve e menor, fica um bom tempo em suspensão na água, é a última a depositar, e portanto, a camada de cima.
Obs: para este teste ficar o mais próximo da composição real do solo, o recipiente com a
amostra deverá ser sacudido por no mínimo 30 minutos, caso contrário pode apresentar erros, visto que as partículas menores (argila) podem ficar “grudadas” nas partículas maiores (areia) e assim se obtém uma amostra que não condiz com a realidade.
Evitar colocar sal para sedimentar mais rápido.

 

História

“A história da construção com terra, a grande variedade das técnicas, e a diversidade de formas passíveis de realizar são deveras surpreendentes. Foi com barro que foram realizadas as primeiras cidades e as primeiras pirâmides, os zigurates. É de terra a maior pirâmide do mundo, a do Sol, em Teotihuacam. Terra foi um dos principais materiais com que se construiu a muralha da China, a maior construção realizada pela humanidade.
Durante quatro quintos da história de nosso país, a terra se constituiu no material de construção mais importante.
Terra é um material brando, que não requer altos investimentos para ser trabalhado. As próprias mãos são suficientes. É muito barato. Aldeias erguidas dois mil anos antes da pirâmide de Quéops ainda estão em bom estado de conservação na Núbia. Os arautos da industrialização desde longa data vêm procurando desqualifica-la como material de construção e, exatamente o contrário, os graves problemas ecológicos criados pela industrialização é que estão ressuscitando as velhas técnicas, as quais tem se mostrado como as mais viáveis em um mundo ecologicamente equilibrado.”

 

(Günter Weimer – Arquitetura Popular Brasileira)
A utilização da Terra Crua como material de construção é muito antiga. Há indícios arqueológicos que datam de mais de 10.000 anos, e que nos dão a entender que a utilização deste material surgiu em cada região de forma instintiva e independente, de acordo com o tipo de solo, clima e local.

-Egito: Adobe
Desenvolveu-se a construção de abóbodas e cúpulas, sem a utilização de formas;
-Leste da África: Taipa de Mão e moldagem direta.
Influência das civilizações vindas do oceano Índico;
-Europa 6.000 a.C.: Taipa de Mão;
-Civilização Grega: Adobe;
-Cretences: Adobe;
-Líbano e Síria: Taipa de Pilão;
-Gália Celtica: Taipa de Mão;
-Jericó 8.000 anos a.C.: Adobe moldado a mão;
-Índia: Adobe;
-China: Taipa de Pilão;
-América Central Pré Colombiana, 500 a.C.: Adobe e Taipa de Pilão (Pirâmide do Sol);
-México (Pueblos): Adobe;
As técnicas de construção em terra utilizadas no Brasil tem muita influência dos Portugueses. Antes dos portugueses chegarem, os povos tradicionais utilizavam distintas técnicas construtivas, dependendo da região e clima. Desde os buracos de bugre, taipa de mão, construções com madeira e palha etc.

 

Técnicas Construtivas

Observação importante:

Logo abaixo abordaremos as diferentes técnicas de construção natural, com suas respectivas proporções de elementos de solo (areia e argila principalmente), porém o solo é muito variável, e apresenta diferentes tipos de reações, dependendo da região e do tipo de solo, por isso devem ser feitos testes preliminares antes de começar a obra, certo.

 

ADOBE:

Blocos de terra produzidos a mão através do preenchimento de fôrmas, usualmente de madeira, que podem apresentar diversos tamanhos e formas.

Podem ser empregados em alvenarias estruturais, de fechamento e cúpulas.

O Adobe é uma técnica que se estendeu pelos climas secos, áridos, subtropicais e temperados do planeta.

Existem relatos de construções utilizando essa técnica a mais de 7.000 anos.

Modo de fazer:

1) Preparar a cama com a massa que deverá repousar de 2 a 4 dias;

A composição do solo ideal para fazer adobes é de 20% Areia, 70% Argila, 10% esterco fresco e o equivalente a 10% de serragem e de2 a 3 xícaras de baba de cactos por carrinho de mão.

2) Ao final do período de cura, misturar a massa com os pés, adicionando a quantidade de água necessária, até alcançar o ponto ótimo.

3) Após molhar e “untar” as fôrmas com areia, preenchê-las com massa, retirar os excessos e desmoldar;

4) Após a desmoldagem, os blocos devem ser secos preferencialmente à sombra. Virar os adobes alguns dias após o seu preparo para continuar a secagem do outro lado. Ao completar duas semanas, pode-se empilhá-los, porém deixando espaços entre cada tijolo para que o processo de secagem continue. Com três semanas pode-se concluir o processo de secagem deixando-os secar ao sol por mais uma semana. Este tempo de secagem varia muito de acordo com a época do ano e o clima local.

5) Os adobes devem ser assentados com a mesma massa utilizada para fabricá-los, podendo assentar no máximo 1 m de altura por dia.

 

PAU-À-PIQUE ou TAIPA DE MÃO:

Técnica que aplica a terra como elemento de preenchimento de estruturas em trama de madeira ou outros materiais vegetais.

Podem ser empregados como paredes externas ou internas, sem admitir função estrutural.

Muito tradicional no Brasil, a taipa de mão pode ser encontrada também por toda a América Latina, na África e nos países centrais e ao norte da Europa.

Existem vestígios que comprovam sua aplicação antes da taipa de pilão e do adobe.

Modo de fazer:

1) Preparar a cama com a massa;

Composição do solo para a massa de taipa de mão: Predominantemente arenosa (por volta de 60%), com argila entre 10 e 15% do volume total. O traço da massa é: para cada parte de terra, ¼ desta parte de esterco;

2) Ao final do período de cura, adicionar um volume de fibra vegetal equivalente ao volume de terra (1:1), acrescentar a quantidade de água necessária e misturar a massa com os pés até alcançar o ponto ótimo.

3) Aplicar a massa em uma trama de vãos entre 10 e 15 cm. O preenchimento deve atingir 2 cm de espessura além da trama.

4) Proteger a parede da incidência direta do sol para que a secagem seja lenta, pois minimiza a retração e o aparecimento de fissuras.

 

TERRA MODELADA / TERRA EMPILHADA (Cob):

Consiste em modelar a terra diretamente em estado plástico ou empilhar bolas de terra, que são depois regularizadas para atingir a forma desejada.

Podem ser empregadas em paredes estruturais, de fechamento e cúpulas.

Esta técnica é considerada como a mais primitiva, pois não requer nenhuma ferramenta. Inicialmente utilizadas na África e na Ásia, foi posteriormente incorporada na Inglaterra (Cob) e na França (Bauge), nos séculos XV a XIX.

Modo de fazer:

1) Preparar a cama com a massa;

Composição do solo para a massa: Predominantemente arenosa (por volta de 60%), com argila entre 10 e 15% do volume total. O traço da massa é: para cada parte de terra, ¼ desta parte de esterco;

2) Adicionar um volume de fibra vegetal equivalente ao volume de terra (1:1), acrescentar a quantidade de água necessária e misturar a massa com os pés até alcançar o ponto ótimo.

3) Aplicar a massa em bolas ou diretamente sobre a base impermeável até alcançar a altura ou forma desejada, com a possibilidade de regularizar a superfície ao final. A massa deve ser empilhada no máximo 80 cm por dia.

4) Proteger a parede da incidência direta do sol para que a secagem seja lenta, pois minimiza a retração e o aparecimento de fissuras.

 

TAIPA DE PILÃO:

Esta técnica consiste em prensar ou comprimir camadas de terra quase seca dentro de formas, geralmente feitas com madeiras (a forma deve ser reforçada).

Pode ser empregada em paredes estruturais e de fechamento.

Encontrado em todos os continentes, seu registro mais antigo pode ser encontrado na Assíria, datada de 5000 anos a.C.. A obra mais significativa com o uso desta técnica é a Muralha da China, construída no ano 220 a.C..

Modo de fazer:

1) Montar os taipais (fôrmas) cuidando para que os mesmos estejam bem fixos e estáveis.

2) Preparar a massa com terra peneirada podendo a mesma ser estabilizada com cimento ou cal. O solo ideal para esta técnica é com 35% de areia e o restante de argila. Umedecer ligeiramente a massa até que se atinja um mínimo de coesão entre as partículas da terra.

3) Colocar a massa dentro dos taipais, em camadas de 10 a 15cm no máximo, de cada vez. Apiloar até que a massa não se deforme mais com os golpes. Serão atingidas fiadas de 50 a 80 cm, dependendo do tamanho da fôrma.

4) Ao final de cada fiada, desmontar a fôrma com cuidado para não danificar a parede. Remontar os taipais logo acima para dar seqüência à construção.

*O volume da terra reduz em 40% na compressão.

 

TAIPA ENSACADA ou Super Adobe:

Nesta técnica as paredes são erguidas com sacos preenchidos com subsolo local.

O saco é um tubo de polipropileno com aproximadamente 50 cm de largura, que é adquirido em bobinas por metro ou quilo.

Pode ser empregada na construção de muros de contenção, paredes estruturais ou de fechamento e cúpulas.

A taipa ensacada ganhou popularidade quando, na década de oitenta, rendeu a Nader Khalili (1936 – 2008) o prêmio em um concurso oferecido pela NASA, que consistia em desenvolver uma técnica de construção que fosse viável para a construção de uma base na lua.

Modo de fazer:

1) A taipa ensacada não exige mistura específica de areia/argila sendo adaptável até mesmo a

regiões com solo extremamente arenoso. Portanto a massa pode ser proveniente de qualquer solo, bastando umedecê-la ligeiramente até que se atinja um mínimo de coesão entre as partículas da terra.

Porém o ideal é utilizar um solo com 20 a 30% de areia.

Dependendo da função desejada deve-se adicionar cimento à massa na proporção de 1:10.

2) Cortar um pedaço do saco de polipropileno no comprimento desejado e preenchê-lo com terra. Assim vão sendo formadas as “fiadas” que devem ser apiloadas e cobertas por outra fiada, sucessivamente, até a parede ser completamente erguida.

3) Deve-se aplicar arame farpado a cada 3 fiadas para conter um possível deslocamento.

 

PNEU

Nesta técnica utilizam-se pneus como se fossem grandes tijolos. Cada pneu é preenchido com solo, preferencialmente com terra argilosa levemente umedecida, e vai sendo socado com marretas de borracha ou socador. À medida que a parede vai subindo, devemos ir costurando como se faz com os tijolos convencionais.

Coloca-se arame farpado entre algumas fiadas de pneus, com a função de fazer um melhor travamento. Também pode ser utilizado apenas na fundação, com excelentes resultados e baixo custo.

Michael Reynolds, arquiteto americano, foi um dos pioneiros a utilizar os pneus como material construtivo.

A espessura que fica a parede de pneu oferece grande conforto térmico e acústico para a habitação, além de dar um fim excelente para um resíduo abundante da sociedade moderna.

 

BLOCO DE TERRA COMPRIMIDA (BTC)

Componente de alvenaria fabricado com terra adensada em molde por compactação ou prensagem. Os BTC’s podem ser usados em qualquer tipo de construção substituindo os blocos cerâmicos convencionais, seja em alvenaria simples de vedação ou alvenaria estrutural.

Trata-se de uma técnica relativamente contemporânea desenvolvida, sobretudo na Bélgica, França e Alemanha. A primeira prensa de tijolos, a CINVA-RAM, foi desenvolvida na Colômbia em meados dos anos 1950. No Brasil, a partir da década de 1970 começou a ser estudado.

Modo de fazer:

1) Destorroar e peneirar o solo seco (deve passar por uma malha da ordem de 5 mm ou destorroador mecânico);

Adiciona-se ao solo preparado, cimento na proporção previamente estabelecida (1:10 ou 1:12).

2) Misturar os materiais secos até obter uma coloração uniforme e adicionar água aos poucos até que se atinja a umidade adequada para sua prensagem.

3) Coloca-se a mistura no equipamento e procede-se à prensagem e à extração do BTC, acomodando-o em uma superfície plana e lisa, em área protegida do sol do vento e da chuva.

4) Após 6 horas de moldados e durante os 7 primeiros dias, os BTC’s devem ser umedecidos periodicamente, podendo ser acomodados em pilhas de até 1,5 m de altura, cobertos com lona plástica para manter a umidade.

5) O processo construtivo é semelhante ao da alvenaria convencional.

 

Acabamentos

Reboco Grosso
Serve para cobrir as rachaduras e emparelhar a parede bruta. Costuma-se fazer uma capa de aproximadamente 3 a 5cm. É neste momento que podemos fazer alto relevo decorativo nas paredes, colocação de cerâmica e/ou pedras formando mosaicos e decorações variadas.

Modo de fazer:
Após fazer o “teste de retração” e verificarmos o melhor traço, que é aquele que apresenta poucas rachaduras isoladas, mas que não esfarela facilmente.
Misturamos o barro com pés, adicionando água. A palha utilizada deverá ser curta, de 3 a 5 cm. Adicionamos baba de cactos para uma melhor aderência e impermeabilidade e para rebocos externos podemos adicionar óleo vegetal, para aumentar ainda mais a impermeabilidade, no traço de 1 a 2 copos por carrinho de terra.

 

Reboco Fino
Após a secagem do reboco grosso aplicamos o reboco fino (3mm).
Utilizamos o mesmo traço de solo do reboco grosso, porém com adição de 30% de esterco fresco, preferencialmente de gado, e deixamos fermentar por pelo menos 15 dias. Para o reboco fino o ideal é utilizar areia fina. Neste reboco não é necessário adicionar palha.
Pode-se utilizar a baba de cactos, o que colabora muito com o processo de fermentação, porém evitamos a adição de óleo vegetal. Este poderá ser adicionado após o processo de fermentação, para rebocos externos, antes da aplicação.

Modo de fazer:
Misturar o solo com água e esterco e deixar “descansando” por 15 dias, onde ocorrerá uma reação química (fermentação) que estabiliza a argila, aumentando sua resistência. Após este processo e antes de aplicar na parede, devemos passa-lo em uma peneira fina, removendo os grãos maiores de areia, pois acabam “arranhando” a parede na hora de alisar com a esponja.
Molhar a parede antes da aplicação.
Pode ser aplicado com a mão ou com desempenadeira, com uma consistência bem pastosa. Aplicar, e após alguns minutos (dependendo da espessura), quando já estiver mais “firme”, mas antes de secar completamente, deve-se passar uma esponja, ou desempenadeira com esponja, e ir alisando a parede. Esse alisamento remove as partículas maiores e vai dando um ótimo acabamento na parede.
É preciso descobrir o tempo exato de passar a esponja, esse é o segredo! Se, ao passar a esponja o barro se deforma e enruga, significa que tem que esperar secar mais um pouco. Quando está no ponto certo, ao passar da esponja a parede vai ficando lisa, com ótimo acabamento.

 

Dicas:
*Para um acabamento ainda mais liso, após passar a esponja, alisar a superfície da parede com uma colher ou pedra bem lisa. Aumenta em muito a impermeabilidade da parede, ideal para locais que fiquem perto de pias etc. O inconveniente é que esta técnica é bastante trabalhosa.
*O esterco é conhecido como o cimento natural, aumentando em muito a resistência do barro, depois de seco.
*Para rebocos externos colocamos uma pequena porcentagem de óleo vegetal (reciclado ou de linhaça), com a função de aumentar a impermeabilidade do reboco.
Ou aplicar algumas demãos de óleo vegetal, com pincel ou trincha, após a secagem da parede.

 

Pinturas Naturais:

  • Tinta é uma mistura entre pigmento (ou corante) e aglutinante ●

Pigmentos: substâncias que dão coloração aos líquidos ou tecidos vegetais e animais.

Em biologia, pigmentos são compostos químicos responsáveis pelas cores de plantas e animais.

-pigmentos vegetais: são extraídos de folhas, flores, raízes, sementes, cascas e troncos, através de diversos processos;
-pigmentos minerais: pó de rocha, terra, óxidos de ferro.

-Aglutinantes: substâncias que adicionadas aos pigmentos, unem as partículas formando “liga”.
Exemplo: colas, óleos, ceras, resinas, sumo de cactos, sumo de babosa, clara e gema de ovo, polvilho…
No preparo das tintas naturais líquidas, tendo como diluente a água, os aglutinantes devem ser incolores, afim de que as cores não se alterem.
Exemplo: clara de ovo, cola, polvilho.

Diluentes: diminui a concentração do pigmento através de um líquido conveniente.
Quando se utiliza água como diluente, esta deve ser fervida para que não se forme microrganismos.
Exemplo: água, óleo ou álcool.

Fixadores: são substâncias que preservam as tintas vegetais de sua desintegração.
Tintas de procedência vegetal necessitam de fixadores.
O suco de limão e o vinagre, além de serem fixadores também avivam as cores.

Ao trabalhar com tintas naturais surgem dúvidas quanto à durabilidade e conservação.
Com raras exceções, as tintas vegetais são sensíveis à luz e sempre vão perder um pouco da sua cor.
Portanto, as pinturas de tintas vegetais são frágeis e não devem ficar expostas ao sol.
Já as tintas de terra não desbotam nunca, mesmo sob sol forte.
Quando os pós são peneirados, deve-se proteger os olhos e narinas para que não sejam absorvidos.
Se formos coletar materiais da natureza, devemos ter o cuidado de retirar o que já está caído no chão, procurando não arrasar plantas vivas.
Nunca retirar cascas de árvores vivas, apenas de troncos caídos.

 

Obtenção de pigmentos líquidos
Cocção: cozinhar a matéria prima, até que a água adquira sua cor.
Exemplo: repolho roxo, erva mate, café, pinhão etc.
Maceração: amassar a matéria prima no pilão e deixar de molho na água fria por volta de 12 horas.
Fricção: consiste em friccionar elementos diretamente sobre o papel. Utilizam-se plantas que contenham quantidade razoável de água.
Liquidificação: bater a matéria prima em liquidificador com água.
Infusão: os elementos são picados e deixados em infusão no álcool até atingirem o seu ponto máximo de cor, cujo tempo varia (minutos, dias, semanas).

 

Obtenção de pigmentos em pó

Trituração: carvão, giz, tijolos, urucum, café entre outros são moídos até serem reduzidos a um pó fino.

Calcinação: ossos, sementes, madeiras são queimadas e reduzidas a carvão, o qual, após sofrer trituração, é reduzido a pó. O carvão também poderá ser usado de forma compacta para grafar.

Peneiramento ou decantação: pedras e tijolos triturados devem passar pelo processo de peneiramento. No caso das terras, devem ser peneiradas e postas para decantar em água. Escorre-se a água e utiliza-se a lama de cima, descartando a de baixo que contém os grãos maiores.
Quanto menor a partícula de pigmento, melhor o seu poder de cobertura, pois a tinta fica mais uniforme.
O aglutinante para a terra pode ser cola, goma (polvilho, trigo ou maizena), ovo ou óleo.

Lixação: as madeiras como Cedro, Pessegueiro, Canjerana entre outras, quando lixadas são transformadas em pós muito finos, de diversas cores. Os pós obtidos podem ser utilizados puros nos aglutinantes ou em associações entre si.

 

Aditivos naturais para tintas de Argila

Esterco de gado ou cavalo: O esterco é conhecido como o cimento natural, aumentando em muito a resistência do barro, depois de seco;
Misturar 30% de esterco fresco de gado ou cavalo na argila e deixar fermentar por 15 a 20 dias.
Se trata de uma estabilização química. O resultado é maior resistência à abrasão e a água e uma melhor aglutinação.
*A acidez residual do estômago do animal que também está contida no esterco faz com que a mistura fermente mas não entre em processo de putrefação. Após a secagem da pintura não se verifica nenhum tipo de “mau cheiro”.

Leite em pó ou soro de leite: 1 colher de sopa por balde (10L). Ajuda na plasticidade da massa. Adicionar somente no momento de aplicar na parede;

Grude: 1 colher de sopa por balde (10L).
Ingredientes: 1 farinha, 2 água fria e 4 de água fervendo.
Como fazer: Dissolver a farinha na água fria e depois adicionar a água fervendo. Pode-se ferver novamente a mistura pronta para engrossar mais.
Aumenta a liga e a dureza da massa após a secagem.
Adicionar somente no momento de aplicar o reboco na parede;

Óleo de linhaça para construção: 1 colher de sopa por balde (10L).
Indicado para pinturas externas. Adicionar somente no momento de aplicar o reboco na parede;

Cal: preparar a cal conforme indica o fabricante e adicionar a terra conforme o tom desejado. Para a diluição é indicado usar o sumo de cactos.
Baba de Cactos: Adicionamos baba de cactos para uma melhor aderência e impermeabilidade. Não usar o cactos em conjunto com os demais aditivos, somente com a cal;
Coletar o cactos Palma, picar e colocar de molho em um balde com água por 3 dias. Após peneirar e usar a baba ou sumo, que um líquido viscoso.
*Para tons diferentes, ao invés de terra, pode-se adotar o Pó Xadrez, que não anula as
propriedades da parede de Terra Crua.


Importante:

Nunca se esqueça que a terra não resiste à água por muito tempo, por isso:

– Fazer fundação alta, de pelo menos 40 cm de altura, aplicando material impermeabilizante para proteger da água que respinga e para bloquear a umidade por capilaridade (aquela que sobe do solo).

– Prever beirais grandes, de no mínimo 80 cm, para proteger as paredes das chuvas, afastar a água que escorre do telhado e distanciar a água que respinga quando cai do telhado no chão.

Manutenção: É importante, de tempos em tempos, “barrear” a casa/edificação novamente, para evitar o surgimento de fissuras e buracos que podem servir de casa para insetos indesejados.

A frequência vai depender da técnica, da qualidade da execução do muro/parede e das intempéries locais (muito vento, muita chuva de vento).

No caso da pintura, assim como em construções convencionais, de tempos em tempos ela terá de ser refeita. Porém a frequência, em relação a uma parede comum, é um pouco maior. O mesmo vale a para a reaplicação de impermeabilizantes naturais, como a baba de cactus palma, por exemplo.

Você vai saber reconhecer quando sua parede estiver precisando de cuidados

 

Dica de mistura do barro

A ajuda de uma lona resistente de aproximadamente 4x4m facilita em muito o preparo da massa de barro.

Com a lona conseguimos “jogar” a massa para um lado e depois o outro, sucessivamente, de modo a se obter uma boa mistura dos elementos com maior agilidade, e ainda dispensa o uso de ferramentas como enxada e pá, visto que estaremos de “pés descalços”, evitando assim possíveis acidentes.

Passo a passo:

-Primeiro mistura-se a terra com a areia, depois vai lentamente adicionando a água com o sumo de cactos.

-Desmanchar bem os torrões de terra com os pés.

-Depois que a mistura da terra + areia + água já apresenta uma textura de “massa de pão”, ir adicionando a palha.

-A palha deverá ser bem espalhada de modo a não deixar feixes paralelos.

-Joga-se a palha e vai pisando para incorporar na massa. Vira-se a massa (com a ajuda da lona) e adiciona do outro lado. Nesta virada da massa a parte que estava em cima vai para baixo e vice-versa.

A massa pronta tem que ter uma textura semelhante a massa de pão.

Cuidar para não adicionar muita água.

*Importante: a terra deverá estar limpa de pedras cortantes, lixo e principalmente cacos de vidro, pois a massa será misturada com os pés.

Nada supera o conhecimento prático!

 

Bibliografia:

– MINKE, Gernot. Manual de construcción en tierra. Editorial Fin de Siglo, Uruguay, 2005.
– VAN LENGEN, Johan. Manual do Arquiteto Descalço. Livraria do Arquiteto, Tibá Livros, Porto Alegre, 2004.

-WEINER, Güunter. Arquitetura Popular Brasileira. 2° edição – São Paulo – Editora WMF Martins Fontes, 2012.

– Apostila de Construção com Terra
TIBÁ- Tecnologia Intuitiva e Bio-arquitetura.

– Cartilha Soluções Sustentáveis – Construção Natural
Ecocentro IPEC 2007

– Cartilha de Eco Construções – Marcelo Bueno

 

Fonte: Blog Espaço Naturalmente