Meio Ambiente e Construção

Notícia de 24/8/2015

 

Criadores de animais do Paraná transformam dejetos em biometano, que abastece seus veículos e maquinários; Investimento para criar o sistema é alto, mas processo reduz custos e ainda produz fertilizante natural.

Por Robson Rodrigues:

O paranaense José Carlos Colombari enfrentava um problema na sua fazenda em São Miguel do Iguaçu, onde cria 5.000 porcos. Os suínos produzem cerca de 100 mil litros de esterco e efluentes líquidos por dia, o que deixava sua propriedade cheia de moscas e com mau cheiro.

Ele decidiu então instalar um biodigestor para tratar os resíduos, produzir biogás e gerar energia elétrica. Colombari foi um dos primeiros a investir no uso de dejetos animais para produção de energia, em 2006, um negócio que tem atraído outros pequenos empresários.

O investimento foi alto: R$ 350 mil utilizados para desenvolver um sistema de coleta dos dejetos, construir o biodigestor, que os transforma em gás, e criar um local de armazenamento. O empresário diz produzir 750 m³ de biogás por dia, que, transformado em energia em um gerador, é o suficiente para tornar sua propriedade autossuficiente de energia.

“Este processo me dá uma economia mensal de R$ 5 mil. Economizo mais R$ 2 mil de adubo, porque uso o efluente tratado como biofertilizante”, diz Colombari, acrescentando que o investimento já se pagou. A economia foi o que motivou o granjeiro Nilson Haake, em Santa Helena, também no Paraná, a investir recentemente em um sistema de produção de biogás.

Ele cria 84 mil aves para a produção de ovos, além de bois para corte. Os excrementos das galinhas servem de matéria-prima para abastecer os seus veículos. Os dejetos são captados e processados no biodigestor, onde microorganismos produzem o biometano.

“O gás abastece o motor de um ônibus com capacidade para 120 passageiros, além de emitir 80% a menos de poluentes. Agora quero converter um caminhão para gás para fazer as entregas dos ovos”, conta o granjeiro.

Haake investiu R$ 130 mil na construção e instalação do sistema. A produção contínua do biogás, contudo, tem custos pequenos e alimenta as máquinas de moer o pasto, as bombas d’água e a refrigeração nos barracões.

Apesar do biogás ser considerado uma alternativa limpa de produção de energia, o uso dos dejetos animais para esse fim ainda é raro.

Cícero Bley Jr., representante do Brasil na Agência Internacional de Energia, diz que o país poderia gerar até 12% de toda a energia consumida a partir do biometano –hoje essa fatia é de apenas 0,05%.

“O Brasil tem 23 bilhões de m³ de biometano para serem explorados, uma alternativa eficiente e barata se comparada aos recursos fósseis, mesmo assim é uma fonte negligenciada”, diz Bley, que atribui o pouco investimento à falta de medidas de estímulo do governo.

 

Tudo se transforma

Nem só os dejetos dos animais podem virar um negócio lucrativo.

Em São Paulo, a graxaria (que faz reciclagem de restos animais) de Gustavo Razzo Neto compra a baixos preços de açougues e frigoríficos sobras não aproveitadas de vísceras, ossos, sangue e carcaças, que transforma em produtos de limpeza, como detergentes, e ração.

“Em São Paulo, cinco companhias fazem a coleta de 22 mil toneladas de resíduos de ossos e gordura por mês”, diz. O empresário não revela seu faturamento, mas o setor de reciclagem de resíduos de origem animal tem uma receita anual de R$ 5,8 bilhões.

Há quase 50 anos nesse ramo, Razzo diz que o mercado passa por um momento ruim diante da alta do preço da carne, que diminui o consumo e, consequentemente, a quantidade de sobras.

 

Fonte: Programa Cidades Sustentáveis