Embora elevem em até 20% o preço do aluguel de escritórios de alto padrão, as certificações de sustentabilidade não conseguem no Brasil entregar a economia de energia e água que prometem, porque esbarram em um “detalhe”: os ocupantes.
Para conseguir o selo, os edifícios precisam ter tecnologia superior em termos de iluminação, materiais, automação, consumo de água e outros itens. Mas é preciso que o usuário da estrutura saiba desfrutar desses avanços.
 
“Em geral, o projeto executivo de uma edificação é 2% responsável pela efetiva sustentabilidade de um empreendimento”, dimensiona Sérgio Mendes, da consultoria e gestora de prédios corporativos Cushman & Wakefield. “Outros 18% são assegurados na construção. Os 80% restantes são operação. Não adianta ter uma Ferrari e só usar a primeira e a segunda marchas”, compara.
Assim, segundo ele, um fenômeno que aconteceu no final da década passada nos EUA se repete agora no Brasil: construções que prometiam uma economia entre 30% e 40% na conta de energia elétrica aos locatários não cumprem essa meta.
 
ALUGUEL
Isso acaba sendo um grande problema para as empresas que optam por um aluguel até 20% mais caro por causa do apelo sustentável, segundo consultores do mercado, na esperança de compensar essa diferença nos gastos com água e energia.
“Muitas vezes o inquilino que vai ocupar uma laje determina ali características muito diferentes das condições previstas no projeto, em termos de quantidade de usuários e de horas de funcionamento dos equipamentos”, justifica Wagner Oliveira, 37, gerente de uso e operação do CTE (Centro de Tecnologia de Edificações), especializado em consultoria e gerenciamento de projetos.
 
CRITÉRIOS DE CERTIFICAÇÃO
Um aspecto que contribui para a frustração no desempenho de uma edificação verde está ligado aos critérios de certificação. As modalidades para novas construções do Leed, selo de origem americana que é o mais utilizado e reconhecido no Brasil, em geral não acompanham o que acontece com o empreendimento após a sua entrega.
“Não há auditoria presencial do funcionamento da edificação depois da entrega no caso da certificação de edificações novas”, diz Oliveira.
“Há discussões sobre o porquê de isso acontecer, o Brasil está na pauta, mas não existe uma ação concreta a respeito. É a visão americana de que, se um projeto foi assinado, na prática nada acontecerá de diferente em relação ao que foi planejado.”
 
Segundo o gerente do CTE, a “cultura brasileira do jeitinho” pode ocasionar desvios nessa rota -tanto que o próprio centro de tecnologia costuma prestar consultoria para os clientes já na fase de operação dos edifícios.
Ele ressalta, porém, que as discrepâncias não ocorrem por má-fé, mas por desinformação. “Se um sensor do sistema de automação não for regulado ou trocado quando necessário, vai falhar.”
Outra questão é que, no Leed, os ambientes internos têm uma certificação à parte, o Leed CI (Commercial Interiors, ou para interiores comerciais), e sua contratação geralmente é uma opção de quem vai efetivamente usar o espaço.
Folha de SP, 31/01/2016, Mercado, p. 8
Fonte: Pib Socioambiental